"Merece reflexão o artigo publicado ontem pelo psicanalista Mário Corso no caderno Cultura, deste jornal. Ele questiona se o propalado orgulho gaúcho, tão evidenciado nas celebrações da Semana Farroupilha, ajuda ou atrapalha o povo rio-grandense a evoluir. Não se trata de uma contestação do legítimo sentimento de identidade e pertencimento ao Estado nem do culto às suas tradições, mas sim da sensação de supremacia em relação aos demais brasileiros. O especialista chama atenção para o apego demasiado ao passado, que tende a gerar uma onda conservadora e imobilista. Lembra ainda que a suposta superioridade cultural em relação aos brasileiros de outras unidades federativas tem sido desmentida pela realidade de um Estado em crise. Como autodefesa, segundo o articulista, o gaúcho ora se considera vítima do poder central, atribuindo a isso a atual irrelevância político do Rio Grande, ora se considera estrangeiro e detentor de uma cultura de inspiração européia e guerreira. Portanto, nem deve se misturar aos incultos e preguiçosos.
Ainda que as comparações pareçam caricaturais, a Semana Farroupilha é bem propícia para uma análise mais aprofundada deste sentimento ambíguo que emerge em datas especiais, mas se mantém latente o tempo inteiro. Compete-nos, como rio-grandenses, cultuar o lado positivo deste orgulho regional - o respeito pela nossa história, a celebração dos nossos símbolos e a afirmação de nossas tradições-, mas também nos cabe rejeitar a arrogância e o complexo de superioridade que desvirtuam nossa verdadeira e irrenunciável identidade de brasileiros. Como sabiamente registra a letra da música "Querência Amada", uma espécie de hino informal dos gaúchos, esse Rio Grande gigante é apenas mas uma estrela brilhante na bandeira do Brasil."
(Zero Hora, Set2006)
Este artigo resume o porquê de eu não ter me adaptado ao povo gaúcho. :)
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